Teu espelho pode ser teu amigo ou inimigo. Tudo depende de como você se vê. O teu olhar pode ser treinado, ou seja, cabe a você fazer do teu espelho o teu amigo.
– Como você se vê?
Quantas vezes você se olhou no espelho hoje? É costume para a maioria das pessoas fazer isto ao se levantar, ao escovar os dentes, pentear os cabelos, aplicar o protetor solar ou uma make-up, fazer a barba e por aí vai. Este olhar não se restringe somente ao ambiente domiciliar. Ao entrar no carro, ao menos uma olhadinha no retrovisor acontece e, novamente, antes de descer do veículo, mais uma rápida conferida, sem contar as olhadelas ao parar em um sinaleiro. Facilmente este item será encontrado nas bolsas, carteiras, banheiros, lojas, restaurantes. Enfim, em todo lugar. O olhar automático nos espelhos parece ser algo comum, quase um ritual, mas tem relevância e poder sobre os comportamentos que impactam a vida das pessoas com sentimentos que tendem a ser negligenciados.
Procure se lembrar da última vez que você se olhou nos olhos, sem pressa, executando o autocuidado por prazer e encarando as expressões do tempo com compaixão. Ahh, nem se lembra? Não tem tempo para isto? Até comprou produtos de hidratação, antissinais, rejuvenescedores, um kit para beleza, mas não usou? Aliás, quando foi usar eles estavam com o prazo de validade vencidos? Você pode achar que não tem nada a ver, mas te asseguro que, quanto mais o indivíduo desenvolve ou treina a capacidade de se enxergar com clareza e foco, quanto mais a pessoa conseguir se autodescrever, mais terá condição de reconhecer o seu autovalor.
– O que você vê primeiro?
Será necessário aprender a nomear, ou seja, dar nome para as suas características físicas e as emoções vinculadas a elas. À princípio, poderá acontecer um comportamento impregnado pela cultura consumista ocidental – o de valorizar ou perceber primeiramente o negativo, o que falta, para depois falar do positivo. Observe e procure se lembrar de momentos assim na sua vida. O aprendizado de ver ou perceber a vida através daquilo que falta, vai transpondo as ações com tantos reforços que acaba por permear quase todas as ações e formas de “ler” o mundo, incluindo a imagem corporal, a autoestima e a autoconfiança.
– Treine o seu olhar
É necessário desenvolver e treinar a habilidade de se olhar primeiramente pelos seus atributos valorosos, ou seja, pelos aspectos positivos. Isto não significa ignorar os negativos, mas apenas não dar a estes a primogenitura do olhar. O primogênito significa “aquele que foi gerado primeiro que todos”. Gerar é dar a existência a alguém, nascer, procriar. Nesta perspectiva, o olhar da primogenitura na autoimagem é a ação ou força motriz de produzir intencionalmente um foco direcionado para aquilo que é bom, que se espera e sonha, e que, a partir deste, seguirão outras dimensões da visão, não piores ou menores, que terão o seu lugar devido, mas sem a relevância de ser o primeiro.
Assim, é importante perceber todas as características que te compõe enquanto pessoa, reconhecê-las e não ignorar nenhuma delas. Depois, nomeá-las e treinar-se a conduzir continuamente esta nomeação, iniciando pelas que te favorecem e encerrando com as que menos te favorecem, atribuindo o seu autovalor, realçando os aspectos positivos e administrando os negativos. É uma questão de reconhecer seus atributos. Um atributo é um valor atribuído às características que te identificam, que, se melhor conhecidos, te proporcionarão uma melhor performance. As características são dinâmicas e sofrem modificações o tempo todo. Você pode definir um ponto onde quer chegar, mas quando chega a esse ponto verá que outros pontos já estão sendo estabelecidos e, portanto, mudanças são inevitáveis a cada ciclo da vida.
Se force, diariamente ao se olhar no espelho, a focar naquele aspecto que você já definiu como positivo, ou seja como seu atributo e o valorize realçando-o. Com o passar do tempo, esta simples ação treinará a tua mente a automatizar este comportamento, e você conseguirá administrar melhor a tua autoimagem. Não será um passe de mágica, será um processo e como toda a trajetória essa atitude pode ser o início, o pontapé inicial para tornar o teu espelho teu amigo